Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Sonata para violino em mi menor K. 304
“Reflita o gosto da nação. Faça esboços e toque para as pessoas. Todo mundo faz assim. Voltaire lê seus poemas a seus amigos, escuta a avaliação deles e muda”. Este trecho de uma carta de Leopold Mozart o filho Wolfgang, de 11 de maio de 1778, buscava injetar ânimo no compositor, então com 22 anos, acabrunhado em sua estada em Paris. Numa carta de 1o de maio, Wolfgang mostrara todo o seu ressentimento com o público francês: “Podem me dar o melhor pianoforte da Europa, mas se, para me escutar, houver pessoas que não compreendem nada ou não querem compreender nada, então perco toda a minha alegria”. Em seguida, pede “pelo amor de Deus” a seu pai que lhe viabilize a ida para a Itália.
“ Ao menos pensar, posso fazê-lo como desejar”, escreve depressivo. Pensar e compor, já que esta estranha sonata em dois movimentos foi composta para si mesmo, e não de olho no mercado, como queria Leopold. A violência trágica da música não deixa dúvidas sobre seus sentimentos em relação a Paris. O uníssono do primeiro tema do Allegro respira revolta, solidão e melancolia – sensações que se espraiam por toda a peça. O finale pouco tem de minueto – só a parte central -, já que por todo o resto do tempo paira a sombra da tragédia.
João Marcos Coelho.
Esta obra faz parte do programa de Ilya Gringolts e Itamar Golan em 06 de Setembro (Série Campos do Jordão), 08, 09 e 13 de Setembro (Série Espaço Cultural BankBoston) e 10 de Setembro (Série Rio de Janeiro).