Dmitri Shostakovich (1797-1828)
Trio op. 67, nº 2 em mi menor

 

Andante moderato - poco piu mosso
Allegro con brio
Largo
Allegretto - Adagio


Composto em 1944, este trio é uma das obras de "pathos" mais trágico da produção do compositor. Simultâneo à "Sinfonia nº 8", foi concluído em 13 de agosto e estreado em novembro, com o próprio compositor ao piano, ladeado por membros do Quarteto Beethoven.

Shostakovich escreveu-o sob o impacto da morte de um de seus amigos mais próximos, o musicólogo Ivan Sollertinsky. Homenageou o amigo dileto utilizando um dos gêneros que considerava de mais complexa fatura, a música de câmara: "A música de câmara exige do compositor", afirmou em janeiro de 1944, "a mais impecável técnica e profundidade de pensamento. Não acho que esteja errado se disser que muitas vezes os compositores escondem a pobreza de suas idéias por baixo do brilho do som orquestral".

E é curioso que ele mesmo atendesse a tamanhas exigências com tanta facilidade. Naquele mesmo 1944, pouco depois de completar o trio opus 67, Shostakovich escreveu a Chebalin: "A rapidez vertiginosa com que componho me inquieta. Não é bom, não tenho dúvida. Não se deveria compor tão rápido quanto eu. Componho diabolicamente depressa e não consigo me conter". De fato, Shostakovich compunha à razão de vinte a trinta páginas de partitura por dia. "A composição me vem como num clarão; depois, é só transferi-la para o papel".

Pressa, ao menos neste caso, também significa perfeição. Desde o início, Shostakovich prende a atenção ao combinar passagens em trêmolo no violoncelo com notas graves no violino: isso causa a impressão de que de repente os instrumentos inverteram suas posições na partitura. O segundo movimento é um scherzo impetuoso, enquanto o Largo concentra todo o "pathos" e a dor da perda do amigo e da atmosfera trágica geral na qual estava mergulhado o mundo em plena Segunda Guerra Mundial: violino e violoncelo levam penosamente em frente uma triste conversa, sobre um tapete sonoro de harmonias corais sombrias do piano.

Apesar de iniciar-se com um Allegretto, o movimento final desemboca num Adagio tecido com um tema inquietante e anguloso. O desenvolvimento deste tema leva a um movimento rítmico mecânico, acompanhado por repetições automatizadas, num contraponto que causa estranhamento. Tais efeitos combinados, já se sugeriu, evocam uma monstruosa procissão de formas cruéis e sinistras. Na coda - recapitulação final -, Shostakovich retoma o tema lírico do primeiro movimento, típico das canções tradicionais russas: é praticamente um manifesto de esperança, ainda que tímido, em dias melhores.

25 e 26 de junho
Jerusalem Trio